O documentário O Portal: A História Oculta de Zona Divas narra, a partir das vozes das vítimas, como funcionava uma rede de tráfico de pessoas por meio de um site de internet.
Sobre o documentário O Portal: A História Oculta de Zona Divas
Entre 2017 e 2019, cinco feminicídios ocorridos em diferentes hotéis da Cidade do México revelaram a sombria realidade por trás do site de acompanhantes ZonaDivas.com, expondo uma rede de tráfico de mulheres para fins de exploração sexual, composta por vítimas vindas de países da América do Sul.
No entanto, apesar do escândalo que essa notícia gerou na época, nem as vítimas fatais nem as sobreviventes receberam a devida atenção, foram revitimizadas e, em muitos casos, usadas como conteúdo sensacionalista pela mídia.
É assim que pensam as cineastas Fernanda Valadez e Astrid Rondero, e a documentarista Laura Woldenberg, que, na busca de reivindicar as histórias de vida dessas mulheres, desenvolveram a série documental O Portal: A História Oculta de Zona Divas, com uma perspectiva feminina baseada nos depoimentos das próprias vítimas.
“Este documentário é principalmente feito por mulheres que se dedicam a falar sobre temas de violência. Acho que isso era o que faltava para entender um pouco mais como esse site funcionou naqueles anos, bem como os perigos que persistem com o fato de que sites como este continuem existindo”, comenta Astrid Rondero, em entrevista ao jorna El Sol de México.
“Fazer essa série foi muito interessante porque nos ajudou a entender que muitas dessas mulheres tiveram que atravessar caminhos enormes e difíceis para poder fazer trabalho sexual e que a maioria delas foram vítimas de tráfico”, acrescenta.
O propósito é gerar conversa com O Portal: A História Oculta de Zona Divas
Dividido em quatro capítulos, no estilo do gênero true crime, o documentário expõe casos específicos de vítimas do Zona Divas, muitas delas trazidas de países como Venezuela, Colômbia e Argentina, revelando detalhes jamais vistos sobre a violência com que essa plataforma operava. Além desses depoimentos, também são contadas as histórias de mulheres que conseguiram sair do ciclo de tráfico.
“Essa série tem como objetivo gerar uma conversa. O conteúdo audiovisual não provoca mudanças imediatas, mas a partir da conversa pode incentivá-las em nós mesmos, que somos os que podemos causá-las.
Nesta série, abrimos o diálogo sobre o trabalho sexual e o tráfico, que são coisas diferentes. Existem diversas posições sobre o que é o trabalho sexual, mas podemos, sim, remover a forte carga moral que deixa as vítimas em situações realmente vulneráveis”, diz Fernanda Valadez.
A série primeiro se dedica a apresentar o caso do Zona Divas, para depois se aprofundar na compreensão das razões pelas quais essas mulheres caíram no tráfico e, com a revisão de dois dos casos de feminicídios, revelar como o tráfico está diretamente ligado ao crime organizado no México.
Um true crime social e latino-americano
A produtora Laura Woldenberg comentou que, para narrar a história, foi decidido usar o modelo do gênero true crime, devido à grande recepção que tem em plataformas digitais.
Mas a diferença, em relação a temas similares, é que ao colocar a perspectiva nas vítimas, contrasta com outras produções que podem gerar empatia com os criminosos.
Seu interesse com essa investigação é criar uma história com sentido social.
A isso, Fernanda Valadez acrescenta que também existem certas condições sociais que obrigam a abordar esse gênero de forma diferente em países latino-americanos, com especial ênfase no México. “No fundo, o true crime é um thriller, pois narra a busca por justiça diante de um ato criminoso.
“Mas no México é praticamente impossível contar o true crime dessa maneira, pois estamos em um país onde os assassinatos e feminicídios chegam a ter 99% de impunidade. Acho que isso fala muito sobre nossa sociedade e o que podemos pensar”, concluem as cineastas, que antecipam que consideram que essa série será assistida por um público mais aberto e crítico, resultado das diversas lutas de gênero e feministas dos últimos anos.
Fernanda Valadez e Astrid Rondero colaboram criativamente há 16 anos. Durante esse tempo, produziram os longas-metragens Los días más oscuros de nosotras (2017), Sin señas particulares (2020) e Sujo (2024), recebendo mais de 60 prêmios internacionais ao longo de suas carreiras.
Veja o trailer do documentário:
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